Atrair
médicos para regiões remotas transformou-se em desafio hercúleo ao Governo
Federal. A despeito das inúmeras tentativas do Ministério da Saúde, os esforços,
até agora, não atingiram seus objetivos.
Até
certo ponto, isso é compreensível. Afinal, os profissionais de medicina buscam
trabalhar em locais com estrutura adequada à assistência e oportunidades de
educação científica continuada, pois dependem da atualização para oferecer, com
boa remuneração, atendimento médico de qualidade. Lamentavelmente, nas cidades
remotas do Brasil nada disso ainda é realidade.
A
questão é que a relação da medicina com a cidadania é direta. Não resolver essa
demanda de saúde das populações de áreas afastadas é a mesma coisa que ignorar o
juramento de Hipócrates.
Portanto, não cabe somente ao Estado procurar solução
para o problema. Médicos, academia e o conjunto da sociedade também devem
colaborar.
Para
começar, devemos entender os motivos que levaram todas as tentativas feitas até
agora darem pouco resultado. Em nenhuma delas houve análise aprofundada da
relação custo-benefício.
Também não foram levados em consideração os baixos
salários que desmotivam o bom profissional, além da ausência de carreira de
estado, de oportunidades de reciclagem profissional e de infraestrutura para uma
assistência adequada.
Outro
fator a ser considerado são as políticas de incentivo à internacionalização. O
Programa do Governo Federal “Ciência sem Fronteira”, por exemplo, é extremamente
importante porque abre novos horizontes para todos aqueles que cursam graduação
e pós-graduação em medicina.
Contudo, precisamos reavaliar a o custo-benefício
disso. Acredito que, por uma questão de coerência, a internacionalização deveria
vir depois da nacionalização.
Para todos esses médicos que vão a outros países,
o ideal seria primeiro conhecer as regiões mais afastadas e de difícil acesso
aqui mesmo no Brasil, áreas que sofrem com a miséria e a falta de assistência
médica.
Além
de ter a oportunidade de prestar importante serviço a essas comunidades
carentes, a atividade ajuda a desenvolver no estudante da graduação e
pós-graduação stricto sensu um sentimento de cidadania de capital importância na
prática da medicina. Participar de ações como essa arremete o indivíduo ao o
humanismo, cuja vertente mais importante é a relação médico-paciente.
Nesse
sentido, com objetivo de promover a nacionalização, a Escola Paulista de
Medicina está implantando o projeto “Saúde em Fronteira”. Trata-se de uma ação
envolvendo Marinha, Exército e Aeronáutica que visa permitir a ida de
estudantes, pós-graduandos e residentes a partir do segundo para regiões
ribeirinhas da Amazônia, a fim de prestar assistência médica e realizar estudos
científicos.
O objetivo final deste projeto, que almejamos transformar
futuramente em política de governo, é a melhoria da saúde dos habitantes das
comunidades locais.
Com essa vivência,
médicos e alunos poderão adquirir uma formação humanística, social e de
cidadania, tão importante para sua carreira e vida pessoal. Essa sim é a verdadeira educação médica
que desejamos implantar no Brasil.
Enviado por : Antonio Carlos
Lopes, diretor da Escola Paulista de Medicina e presidente da Sociedade
Brasileira de Clínica Médica
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